sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A mobilidade por bicicleta e o anti-jornalismo

A mobilidade por bicicleta e o anti-jornalismo

8/12/2010 – Por Uirá Lourenço (Servidor público e ciclista por opção)

Resolvi escrever sobre dois temas que me fascinam: mobilidade urbana e jornalismo. Alguns fatos recentes me fizeram pensar mais na relação entre os assuntos. Na verdade, o estopim se deu após a notícia veiculada no jornal O Diário, de Maringá (Paraná), no dia 3 de dezembro.

A matéria cita Brasília como exemplo de investimento em transporte por bicicleta. Os dados do Distrito Federal apresentados no texto – quase 130 km de ciclovias e 400 mil usuários de bicicleta como meio de transporte – não condizem com a realidade e escondem os riscos dos que optam pela bicicleta no agressivo trânsito da capital federal.

O verdadeiro jornalismo compromete-se com a verdade. A apuração dos dados “oficiais” enviados pelo governo mostra-se fundamental. Uma análise mais detalhada, entrevistas com usuários de bicicleta ou uma simples pedalada revelaria o verdadeiro contexto de Brasília.

A matéria afirma: “Até 2009, de acordo com o governo do Distrito Federal, eram quase 130 quilômetros lineares de ciclovias, construídas ao custo de R$ 7,5 milhões.” A própria página do Programa Cicloviário do Distrito Federal (Pedala-DF) informa que são 42 km de ciclovias. Vale lembrar o conceito de ciclovia – via totalmente segregada do tráfego motorizado. Ou seja, não se podem incluir acostamentos, ciclofaixas nem os percursos na terra abertos nos amplos canteiros por pedestres e ciclistas que não dispõem de espaço seguro (os chamados caminhos de rato).

Trilha no canteiro – ciclovia, calçada ou improviso?

O que dizer de tamanha discrepância nos números? Possivelmente, o texto foi escrito por alguém que imagina uma cidade ideal cortada por centenas de quilômetros de ciclovia. Alguém que desconhece a cidade, não usa a magrela no dia a dia e ainda crê na solução mágica da palavra ciclovia.

Da mesma forma, o número de usuários de bicicleta apresentado está errado, excessivo. Desconheço uma fonte que forneça números confiáveis de ciclistas no DF (geralmente, os dados estatísticos referem-se ao trânsito motorizado), mas afirmo com tranquilidade que a proporção de ciclistas é muito menor. Uma olhada de relance em qualquer via revela a desproporção entre carros e bicicletas. Com 400 mil ciclistas para uma população de cerca de 2,5 milhões teríamos uma Brasília muito mais agradável.

Ciclista espremido pelos carros na EPTG (“Linha Verde”)

Precisamos de muito mais para sentir os benefícios da cultura ciclística presente em Copenhague e Amsterdam, onde a bicicleta é utilizada em quase metade dos deslocamentos diários. É necessário ter segurança no trânsito, campanhas educativas, fiscalização das infrações (alguém já viu um motorista ser multado por não dar preferência ao ciclista ou por tirar fina, conforme prevê o código de trânsito?), moderação de tráfego (velocidade menor nas vias incentiva os deslocamentos a pé e por bicicleta).

É necessário que os gestores públicos e jornalistas comecem a pedalar. Já que, no discurso, muitos veneram a bicicleta como opção limpa e saudável de transporte, gostaria de ver secretários de transporte, diretores de órgãos de trânsito e prefeitos indo ao trabalho e às compras de bicicleta. Que belo exemplo seria aos demais cidadãos.


Sorocaba e as bicicletas

Sorocaba sediou, no início deste mês, a segunda edição do Bicicultura, evento que reúne pessoas engajadas na luta por uma mobilidade sustentável, com foco na bicicleta. A cidade é um exemplo de que só investimento direto em ciclovia não basta. Apesar de já contar com 65 quilômetros de vias vermelhas para ciclistas, o fluxo de usuários ainda é baixo. E o tráfego de ciclistas fora da ciclovia revela-se agressivo. As garantias de circulação de pedestres e ciclistas previstas no código de trânsito, como a preferência nos cruzamentos, são desrespeitadas.

Uma notícia do jornal impresso Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, demonstra mais um caso de anti-jornalismo. Durante o Bicicultura, eu mais outros colegas ciclistas conversamos com o prefeito, Vitor Lippi, que havia proferido palestra. Parabenizei o trabalho realizado na cidade e comentei sobre alguns problemas detectados ao pedalar pela cidade, em especial a tinta usada na pintura da ciclovia e o risco do tráfego compartilhado fora das vias exclusivas para ciclistas.

No dia seguinte (3/12), descobri que fui citado numa matéria sobre ciclovias. Eu sequer dei entrevista para qualquer jornalista. Resumindo o caso, o suposto profissional da área de jornalismo ouviu a conversa com o prefeito, fez as anotações que quis, perguntou meu nome para alguma pessoa do evento e expôs críticas ao prefeito com base em minhas declarações. Curiosamente, a matéria não informa que, no início da conversa, eu havia elogiado o investimento no transporte por bicicleta.

Não bastassem o desconhecimento e o descaso governamentais com o a mobilidade sustentável, os cicloativistas ainda têm que lidar com o desserviço prestado por jornalistas sem conhecimento do assunto ou mal-intencionados.

Confira as duas matérias mencionadas no artigo.

- Notícia veiculada no jornal O Diário (Maringá-PR):

http://www.odiario.com/maringa/noticia/370069/prefeitura-tenta-recursos-para-aumentar-ciclovias.html

- Notícia publicada no jornal Cruzeiro do Sul (Sorocaba-SP):

http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=39&id=371815

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Automóvelatria

Automóvelatria Imprimir E-mail
Escrito por Gilvander Moreira
09-Dez-2010

Atualmente, no Brasil, cerca de 50 mil famílias recebem anualmente uma espada de dor no coração ao receber a notícia que um ente querido morreu em "acidente" de trânsito.

Dizer "acidente" é eufemismo, é dourar a pílula, pois se tratam de tragédias previsíveis e anunciadas, porque as estradas brasileiras são malfeitas e mal conservadas, além dos motoristas, que para complementarem seus baixos salários são forçados a dirigir um excesso de horas, pois a carga-mercadoria não pode atrasar. Para isso, os motoristas tomam um comprimido "energético", uma droga chamada rebit. Andam no limite.

A maior parte das estradas do Brasil, quando ainda não são de terra, sujeitas à formação de buracos, "costela" ou a lamaçais em tempos de chuva, é asfalto feito com fina espessura e em péssimo estado de conservação. Uma fina capa asfáltica não agüenta o peso das enormes carretas lotadas de carvão, de automóveis ou de qualquer coisa, que trafegam pelas rodovias, normalmente, com excesso de peso. Exemplo disso são as carretas que têm autorização para transportar somente 95 metros cúbicos de carvão, mas trazem, quase sempre, de 10 a 13% a mais, desrespeitando leis, com falta de fiscalização ou cumplicidade de fiscais.

"Nunca vi na minha vida tanto frenesi e tanto desejo de comprar um automóvel. Todo mundo quer um automóvel. Não importa se vai ficar endividado nos próximos 6 ou 7 anos", conta Geovane, funcionário de uma revendedora de automóveis. As propagandas são cada vez mais intensas e intermitentes. "Entre na concessionária e saia de carro novo, sem pagar nenhum centavo de entrada, com apenas 2,90 reais por dia", estrila uma propaganda.

"Eu gastava uma hora e meia de ônibus coletivo para chegar ao local do meu trabalho, mas agora gasto quase 3 horas, pois o trânsito está um inferno. Ao invés de levantar às 5 horas da manhã, tenho que levantar agora às 3h:30 da madrugada", desabafa Rosália.

Dia 2 de janeiro de 2010, pela manhã, vindo de automóvel, de João Pinheiro para Belo Horizonte (MG) – distância de 380 Km –, cruzei com 95 cegonheiras (carretas) que transportavam mais de mil automóveis. No Brasil, em 2007 foram vendidos 2,5 milhões de automóveis; em 2008, mais de 3 milhões. A FENABRAVE informou, em 5 de janeiro de 2010, que o Brasil fechou 2009 com um recorde de 3.141.226 veículos novos vendidos, número que, mesmo com a crise financeira, foi 11,35% superior ao de 2008.

As vendas de automóveis e veículos comerciais leve’s, em 2010, devem ultrapassar 3,4 milhões de unidades.

Encontrar estacionamento nas cidades grandes está cada vez mais difícil e, quando se encontra, muito caro. Nos grandes engarrafamentos, os automóveis se transformam em celas solitárias, prisões ambulantes. Prendem as pessoas não mais só em prisões ou com tornozeleiras, mas em celas solitárias ambulantes que são os automóveis em trânsito lento ou engarrafado.

Em uma progressão geométrica, as cidades vão se transformando em grandes estacionamentos. Sobrevive-se muito mais tempo dentro de automóveis e de ônibus coletivos do que em casa ou no ambiente de trabalho. Rádio, toca CDs, MP 3 e celulares aliviam a tensão que causa ficar "preso no trânsito".

Eis sinais de que estamos no meio de uma ‘automóvelatria’, ou seja, idolatria dos automóveis. Esses são deuses, falsos ídolos, que imolam no altar dos "acidentes" de trânsito 50 mil seres humanos por ano, só no Brasil. Ídolos que emitem bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, aumentando muito o aquecimento global com todas as mudanças climáticas que sacrificarão cada vez mais um número maior de pessoas e tantos seres vivos da biodiversidade. Ídolos que paralisam milhões de pessoas em congestionamentos que a cada dia batem recordes em tamanho. Estresse, angústia, irritação, nervosismo, desrespeito às leis de trânsito, acidente ... São produzidos por esta nova idolatria que também pode ser chamada de carrolatria.

Em apoio e incentivo à automóvelatria, o governo Lula está sendo um Juscelino Kubitschek, pois fez em cinco anos o que se faria em cinqüenta: abarrotou o Brasil de automóveis e deixou milhões de pessoas endividadas e de joelhos, adorando à deusa indústria automobilística. Até os jegues que compõem a cultura nordestina estão ameaçados de extinção, pois a moda é comprar motocicletas que, na prática, substituem cavalo, égua e os jumentos (será que Jesus toparia entrar em Jerusalém montado numa motocicleta?).

Como desvencilhar-se da automóvelatria e resgatar a fé no Deus da vida? Idolatria é algo sedutor, mas é possível recriarmos uma outra forma de conviver em sociedade.

Cito alguns caminhos necessários: a) Criar uma sociedade sustentável; b) Reduzir muito o consumo; c) Viver de forma simples e austera; d) Frear o progressismo econômico. Basta de "é preciso crescer". A hora é de "é preciso preservar os bens naturais"!; e) Investir em transporte coletivo: metrô, trens, bicicleta etc.; f) Fazer reforma agrária para devolver para o campo a imensa multidão que foi enxotada pelo êxodo rural; g) Reforma urbana e não apenas urbanização; h) Reforma tributária a partir dos pobres; i) Fortalecer a democracia direta e participativa; j) Dar voz aos movimentos sociais populares e às pessoas de boa vontade.


FONTE: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/5285/180/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

BICICULTURA 2010 - SUCESSO!

Bicicultura 2010 se consolida como maior evento sobre bicicletas realizado no Brasil.
Intensa troca de experiências, planejamentos e ações!