quarta-feira, 18 de maio de 2011

Economista em Brasília troca carro por 16.960 passos para ir ao trabalho

17/05/2011 07h00 - Atualizado em 17/05/2011 07h00

Ele percorre 8 km por dia, ida e volta, de casa para o centro da cidade.
Em 1973, cidade tinha um semáforo; hoje, frota é de 1,2 milhão de veículos.

Rafaela Céo
Do G1 DF

Quando o economista paulistano Pérsio Davison, de 63 anos, mudou-se para Brasília, em 1973, encontrou uma cidade ainda em construção, habitada por cerca de 200 mil pessoas. As ruas vazias e as grandes distâncias convidavam ao uso do carro. Na lembrança do economista ficou o fato de a capital, naquela época, contar com apenas um semáforo. Apesar das facilidades do transporte individual de uma Brasília jovem, Davison já gostava de fazer suas caminhadas.

Na série Vida em trânsito, o G1 vai mostrar como a rotina de pessoas em diferentes lugares no Brasil, em cidades de tamanhos diversos, tem passado por mudanças por causa do tráfego intenso. E o seu cotidiano, mudou por conta do trânsito? Deixe sua história na área de comentários ao final da reportagem.

Com o crescimento do Distrito Federal, que hoje conta com uma frota de mais de 1,2 milhão de veículos e transporte público alvo de constates reclamações da população, o hobby do economista virou também necessidade. Hoje, a rotina dele inclui fazer o percurso de ida e volta para o trabalho a pé. “Comecei a ter a essa visão das dificuldades do transporte individual e a tensão na direção”, diz.

Da quadra 308 Sul, onde mora, ao Setor Bancário Sul, no centro da capital, local de trabalho de Davison, são cerca de quatro quilômetros – trajeto percorrido em 40 minutos.

O economista conta que certa vez, por curiosidade, resolveu calcular quantos passos eram necessários para atravessar uma das superquadras típicas de Brasília. Foram 530 para cobrir a extensão de 250 metros. Por essa média, Davison dá 16.960 passos diários para cobrir os 8 quilômetros do percurso de ida e volta entre a casa e o trabalho.

“Se eu fosse de carro, certamente gastaria 15 minutos a menos, mas penso que essa diferença de tempo é uma oportunidade de me dedicar mais a mim. No fim do dia, usei mais de uma hora para minha saúde”, calcula.

Na conta também entram a energia e o tempo gastos em engarrafamentos. “Quando você está preso dentro do carro num congestionamento, há a tensão e não há a ação. Isso se reflete em como a pessoa começa o dia, tensa e irritada”, avalia.

A escolha pela caminhada também evita um problema recorrente na área central de Brasília: a falta de vagas. “Às vezes tentamos fazer uma reunião de trabalho e os convidados não comparecem por causa da dificuldade de encontrar vaga para estacionar”, conta o economista.


Para ele, as pessoas já começaram a refletir sobre as restrições causadas pela opção de mobilidade. “Estamos vivendo um delírio em relação ao transporte individual. Mas estamos começando a perceber as dificuldades. As pessoas estão tomando consciência e se percebem dentro do contexto”, comenta Davison.

O economista, que usa o carro para ir ao trabalho apenas ocasionalmente, cerca de quatro vezes por mês, disse que a cidade de 51 anos precisa planejar uma saída para os dilemas de mobilidade urbana que enfrenta.

“Temos que ter habilidade de pensar Brasília daqui a 50 anos. Precisamos romper com algumas lógicas em vigor. O fato de a cidade ter sido pensada como moderna para a indústria automobilística não significa que ela vai ser moderna utilizando apenas essa opção”, afirmou.



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